sexta-feira, novembro 16, 2007

Sessão Guerreiros II

Immaculée Ilibagiza



Immaculée é sobrevivente do genocídio de Ruanda, e após o feito escreveu o livro "Left To Tell: Discovering God Amidst the Rwandan Holocaust" (que seria algo como "Deixada para Contar: Descobrindo Deus no meio do Holocausto Ruandês") . Ela conta que seu irmão chegou a ela numa noite e disse que o presidente do país havia morrido decorrente de um atentado e na mesma hora ela levantou gritando - "Oh, Meu Deus, eles vão nos matar!"...


Entendendo a história

Ruanda, país africano, tem uma longa e triste história, sempre tendo como cenário a briga constante entre os "hutus" e "tutsis" pelo papel principal. Essas duas "etnias" foram classificadas assim pelos belgas, que pegaram o país após a 1° Guerra Mundial e impuseram uma série de idiotices humanas dignas daquela época, como a soberania de certos traços físicos(no caso tutsis os mais altos e de narizes retos, sobre os hutus, baixos e narizes largos). Tal rixa acumulou ódio e mais ódio e quando os hutus conseguiram finalmente o poder, na déc. 60, uma Frente Patriótica Ruandesa, liderada por tutsis, bateu de frente com o governo desencadeando, a partir de 1990, uma guerra civil que teve cessar-fogo em 1992. Mas o assassinato do presidente hutu dois anos depois foi o estopim, e teve início um dos mais terríveis genocídios deste planeta. Resultado: em 100 dias cerca de 1 milhão de tutsis e hutus opositores foram assassinados, adultos e crianças.


Onde entra Immaculée? Ela, mulher tutsi, sobreviveu. Esperta como era, Immaculée sabia que tudo aquilo parecia armado e que os hutus queriam dizimar a sua "etnia". Dito e feito, logo após os primeiros assassinatos, rádios e até as tevês começaram a veicular mensagens do tipo "matem todos os tutsis, todos!""destruam suas casas... as baratas(tutsis) não podem chegar aos aeroportos, são protegidos pelos nossos amigos, os franceses!" De imediato sua família mandou que ela fugisse( já que era a única filha temiam que fosse estuprada). Numa triste despedida, em que seu pai lhe entregou um rosário, ela foi até a casa do pastor, um homem hutu de confiança, que sabiam que não seria morto. Em sua casa ele a colocou escondida com outras sete mulheres num banheiro... e lá elas permaneceram por 91 DIAS!!!


Em tal situação que se encontrava, ela passou a rezar tanto ao ponto de rezar o rosário 27 vezes por dia. Cada palavra saía de sua boca com um desejo verdadeiro, e então começou a entender que seu pensamento, naquelas horas, não deveria ser em como poderia ser morta, mutilada, e, sim, em visualizar coisas positivas. Seus pais, irmãos, amigos, vizinhos, foram todos esquartejados até a morte. Muitas mães foram repetidamente estupradas, seus filhos e maridos obrigados a assistir. É lógico que essa mulher sofreu com as perdas, mas se guardou rancor e vingança? Ela quebrou essa atitude histórica e geradora de toda a guerra aceitando a Vida e perdoando todos os outros. Ela perdoôu.


"Eles estavam em toda parte, nos quartos, no telhado da casa andando. E você os ouvia andando na casa, sabia que estavam te procurando e que nada podia impedi-los de te matar e de te achar. E você não sabia que tipo de milagre ocorreria para que eles não achassem aquele banheiro."


Vários vezes homens da milícia hutu invadiam a casa do pastor procurando por tutsis. Nessas horas ela sentia, fisicamente, que inúmeras agulhas penetravam seu corpo, como se ela queimasse viva. Era doloroso. Podia escutá-los vasculhando, rindo, matando uns aos outros. Daquele minúsculo banheiro, ela pediu ao pastor que movesse o armário do quarto para a frente da porta. E, milagrosamente, nenhum hutu reparou que havia uma porta escondida. Nos dias que se seguiram Immaculée se encontrou espiritualmente. 4 anos após o genocídio ela emigrou para os Estados Unidos, onde trabalha, e estabeleceu o "Fundo de Caridade Left To Tell" que já arrecadou mais de 150 mil dólares, beneficiando crianças órfãs em Ruanda. Seu livro já vendeu mais de 250 mil cópias pelo mundo todo, recebendo diversos prêmios. Immaculée Ilibagiza é um exemplo de crescimento, de bondade, e luz no meio de tanto ódio e pavor. Pelo seu esforço em não cair de joelhos e se condenar ao sofrimento eterno sempre se achando a maior sofredora do mundo, como muuuuuita gente faz, ela com certeza é uma guerreira.


Devemos aprender com ela que o perdão sincero é o início da paz que procuramos. Não há etnias sob o olho de Deus, ou o que quer que seja o topo da hierarquia exitencial. E que seja você alguém feliz ou triste, existem outras pessoas que precisam de você, constantemente. Não vamos ficar pensando só nos tais "sinais do fim do mundo", e sim em como criar os sinais do começo de um novo e belo mundo, onde ninguém mais vai precisar morrer por ser diferente.


Acessem o site dela e saibam mais sobre o trabalho dessa mulher surpreendente. Querem entender mais sobre o que houve em Ruanda? Vejam os filmes "Hotel Ruanda" e "Tiros em Ruanda". No post abaixo tá a primeira parte do documentário sobre Immaculée.

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