Arcanjo de Prata

O dia em que tentaram invadir a minha casa

(parte I)

Eu não sei como anda a mentalidade dos leitores desse blog, se possuem um lado espiritual forte ou um ceticismo aflorado, mas o fato que vou contar agora talvez lhes traga uma nova percepção.

Vejam bem, moro no Rio de Janeiro, não na capital, e sei que a violência na minha cidade adquiriu um patamar, tragicamente, de normalidade. A maioria talvez seja de classe média baixa. E concluo que tal situação faz a minha casa parecer um negócio desejoso para mentes perversas. Não que vivo num baita casarão, pois não é o caso. É que foi tudo uma questão de sorte. A minha casa foi construída num morro-colina(o que seja, rs) quando minha mãe me deu à luz(1987). Na época ela até proferiu a seguinte frase - "quem é doido de construir aquela casa grande num morro?". Mal ela sabia que seria a dona da mesma 10 anos depois. Voltando, a sorte foi que, embora o 1° dono ter chamado um arquiteto, feito-a com zelo, precisou mudar-se antes mesmo de morar nela. Ele, militar, partiu. E devido as circunstâncias, a família que nos vendeu a casa(foram os 2° dono) fez uma oferta muito boa, e então foi tudo ótimo... ou pensávamos.

Assim, aparentemente certas pessoas podem achar que temos dinheiro, e a verdade é que minha casa é uma bagunça, a mesa da sala é tão torta quanto a Torre de Pisa, e o ditado "as aparências enganam" se aplica aos imóveis, deviam espalhar isso também!

Foi mês passado(novembro), quando eu e minha mãe(ao telefone) estávamos na sala, minha irmã e uma amiga vieram da sacada dizendo: "acho que a vizinha disse que estão tentando entrar aqui". Eu pensei, quase com um riso:"Não é possível." Nisso fui até a sacada, a vizinha da casa à frente gritou "TÊM 3 HOMENS ARMADOS NO SEU QUINTAL!". Não sei se alguém aqui passou por isso, mas juro que senti meu coração se deslocar. Eu corri, antes mesmo de todo mundo processar o fato, para os quartos(com janelas de vidro e sem trincos, embora situadas no alto) apaguei todas as luzes da casa e tranquei todas as portas. Permanecemos no corredor.

A essa hora minha mãe estava aos prantos ligando para a polícia e para meu pai, que estava trabalhando fora. É impressionante como que a adrenalina aumenta espantosamente a sua audição. A saliva que descia com dificuldade na minha garganta parecia estourar meus tímpanos. O meu braço se cobriu com veias realçadas, e meus olhos miravam aquela escura sacada pedindo com todas as forças que ninguém aparecesse nela.

Pouquíssimos minutos passaram quando meu pai entrou no quintal sozinho, prendeu a rotweiller que, sim, absurdamente, estava SOLTA! E então que escutamos as vozes de vários homens cercando a casa no mesmo estilo S.W.A.T.

Um dos maiores pavores era o sotão da casa. A entrada nele é no lado de fora e próxima ao muro que dá num terreno baldio. Enquanto até minha irmã gemia sufocadamente, apreensiva com um possível conflito "polícia-meu pai Vs bandidos", indagávamos: "quando vão checar o sotão?"... e aí passos fortes ecoaram com virulência sobre o teto. Ficamos aliviados. A polícia checou tudo, e nada. Deviam ter fugido, esses assaltantes.

Logo, tudo parecia ter sido só mais uma noite - com final feliz, vale salientar - no Rio de Janeiro(4 carretas da polícia militar ajudaram). Meu pai teve que voltar para seu trabalho, e minha mãe ligou para ele com uma dúvida que corroeu nossa mente de súbito, já que, na hora de toda a conversa pós-susto, ninguém comentou sobre o sótão. Minha mãe inquiriu: "Vocês(meu pai e a polícia) foram no sótão, né?". "Não, só eu." - respondeu. "Mas só subiu as escadas e botou a cabeça ou andou lá em cima? - ela persistiu. "Só botei a cabeça. Tava tudo escuro e os policias não tinham lanterna". Nessa hora vi o rosto de todo mundo azular, e eu não consegui expelir um som sequer, como se tivesse 30 dúzias de ovos rolando na minha garganta feito um globo de bingo...

foto1: minha sacada(com minha cachorra curiosa)

foto2: aqui