domingo, agosto 26, 2007

O MENINO QUE ROUBAVA MANGÁS




### Não faz mais que três semanas que eu estava no terminal de Niterói, habitualmente, me deleitando com as diversas "Revistas DOUBLE ANTE"(conteúdo interessANTE + preço exorbitANTE), até que um menino (moreno, talvez 1,70m, casaco preto sobre uniforme escolar) ficou olhando de esguelha o movimento dos donos da banca ao mesmo tempo que segurava um Mangá (revista de desenhos japoneses) apertado contra a cintura. Sim, era uma explícita cena de "pré-furto". A banca cheia de gente sequer intimidava o menino - pelo contrário, parecia causar-lhe uma adrenalina, incitando-o a consumar seu desejo pueril. Quando me dei conta, percebi que eu tinha parado de chofre e meus olhos fitavam a cena frame por frame. E enfim, o menino cravou o Mangá rápida e silenciosamente nas calças engatando no meio do frenesi de uma multidão às 12:30 de um sábado.



### A perplexidade que me arrebatou causada por aquele ato tão vero não foi o motivo principal deste post - apesar de ser a introdução -, foi a vacuidade daquele furto o meu real espanto. A vacuidade de pensamento, do desejo, do início de uma possível vida regada a meios práticos com fins catastróficos. O que aconteceria se eu o denunciasse ali mesmo? O menino iria receber um tapa no cocoruto da cabeça? Seria levado ao segurança da área e prestar a responsabilidade jurídica daquela "brincadeira"? E o mais importante: aprenderia alguma lição? Se sim, seria a de que ele deveria ter mais cuidado ao planejar algo do tipo para não ser pego ou que furtar é errado e isso implica num comportamento gradativamente auto-destrutivo?


### Só digo que todas essas perguntas invadiram minha cabeça num turbilhão que me impediu, na hora, de tomar alguma atitude, e isso me torturou por um bom tempo. Fiquei condoído com a situação. O menino talvez seja o atual exemplo de um povo que luta(ou melhor, quer passar essa imagem árdua e desesperadamente) contra a corrupção, os crápulas imorais residentes dos palacetes elitizados, mas tal povo é a mesma, e única, fonte geradora de tais personagens. Contraditório! - exclamaria o leitor atento, para só depois afirmar: Não, caótico!


A história se repete com a mesma virulência que atingia seus avós décadas atrás. O famoso bioma inescrutável bordeja a sociedade "normal" e quer se fazer visível.


Naquela banca me fugiu a habilidade exigível para interpelar por aquele
rapaz. Mas houve essa vontade, isso posso dizer. Mormente boa parte da população
brasileira seja calorosa e festiva, falta essa vontade aflorar, e mais, falta
ela vir por um motivo menos desesperado. Ressalto essa parte pois muitos
decidem tomar partido quando algum parente cai de borco no solo e nunca mais se
levanta, provavelmente vítima de uma bala... essa, perdida, mas a Morte,
nunca.

Deve-se esperar que seu irmão, primo, sua mãe ou amigo faleça para assim
juntar-se a uma passeata pela paz? Pesquisar e estudar para assim dizer num
brado forte que não aguenta mais a situação picaresa e assistemática do governo
brasileiro?

Estou farto desse calvário coletivo não obter a importância que merece. Jogos
Panamericanos, Carnaval, Oscar, VMA, Natal, Victoria's Secret Fashion Show, Copa
2010... Os humanos desembestam em polvorosa a esses eventos, impondo à cada
ano mais "meios de distração"... um jeito de esquecer dos exilados... dos
pobres... dos famintos e miseráveis... dos assassinos... dos solitários... de
dar atenção à todos eles, e ao menino que chegou um dia a roubar para
sonhar

.

Um comentário:

Help Us! Animals wordwilde disse...

Obrigada por ter visitado um dos meus blogs.Tb gostei muito do seu e virei cá mais vezes.